A provável significação de Abrão é: o pai é engrandecido. A forma mais extensa não quer dizer coisa alguma, mas por uma semelhança de som sugere a significação hebraica de ‘pai da multidão’ (Gn 17.6). Fundador da nação judaica (como se vê em Js 24.2 – 1 Rs 18.86 – is 29.22 – Ne 9.7 – etc. – Mt 1.1 – 3.9, etc. ). Acha-se descrita a sua vida em Gn 11.26 a 26.10. Terá, descendente de Sem, saiu de ‘Ur da Caldéia’ com seu filho Abrão e sua nora Sarai, e seu sobrinho Ló, para Harã, onde fixou residência, não indo, como tencionava, ‘para ir à terra de Canaã’ (Gn 11.31). Depois da morte de Terá, ouviu Abraão a divina chamada, e procurou nova terra – recebeu, então, de Deus a primeira promessa com bênçãos a respeito da futura grandeza da sua descendência (Gn 12.1). Guiados por Deus, dirigiram-se Abraão, Sarai e Ló com os seus haveres e servos, à terra de Canaã, e vemos depois toda a família na rica planície de Moré, perto de Siquém, nas faldas dos dois famosos montes Ebal e Gerizim. Aí edificou ele um altar ao Senhor, e recebeu a primeira promessa, clara e distinta, de que aquela terra seria dos seus descendentes (Gn 12.7). Depois retirou-se para outro lugar, na região montanhosa entre Betel e Ai, e aí se conservou em segurança até que a fome o levou para o Egito. Neste país, o seu artifício com respeito a Sarai obrigou-o a uma situação humilhante perante Faraó. A sua riqueza e o seu poder já eram consideráveis. Ao voltar do Egito, ele separou-se de seu sobrinho L6 e foi habitar no vale de Manre, perto de Hebrom, a futura capital de Judá, que estava na linha de comunicação com o Egito, e nas proximidades do deserto e das terras de pastagem de Berseba. No ataque a Quedorlaomer (Gn 14), Abrão já é o principal de uma pequena confederação de chefes, e bastante poderoso para perseguir o inimigo até à entrada do vale do Jordão, combatendo com bom êxito uma grande força, e libertando Ló. E com esta vitória pôde deter por algum tempo a corrente das invasões do norte. No cap. 15 confirma-se a promessa de uma inumerável descendência em face da objeção de Abrão de que não tinha filhos – assume, então, a sua fé uma tal proeminência na teologia judaica e cristã que, dizem os autores sagrados, ‘ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça’ (Gn 16.6 – cp. Rm 4.3 – 9.7 – Gl 3.6 – Tg 2.23). É, ainda, ratificada a promessa por meio de um pacto entre o Senhor e Abrão – mas antes de cumprir-se pelo nascimento de Isaque, é a sua fé provada pela demora, e fortalecida com uma disciplina moralizadora. os caps. 16 a 20 contêm narrativas do nascimento de Ismael, filho de Abrão e de Hagar, que era serva de Sarai, e também a respeito da circuncisão, instituída como selo do pacto, e da mudança dos nomes de Abrão para Abraão e de Sarai para Sara. Nesses mesmos capítulos se narra a visita dos anjos e a especial promessa de que Abraão e Sara haviam de ter um filho dentro do espaço de um ano – a intervenção de Abraão pela cidade de Sodoma – a destruição das cidades da planície – a salvadora fuga de L6 – e a se Ismael a favor do ‘filho da promessa’ (cap. 21), a história silencia por alguns anos, até que, na infância de Isaque, aparece a dura prova de fé a Abraão na ordem que recebeu para oferecer o seu filho em sacrifício (cap. 22). Em vista do uso de sacrifícios humanos, tão generalizado entre as nações pagãs circunvizinhas, tal ordem podia ser prontamente considerada, sem qualquer repugnância, como vontade de Deus. o seguimento da narrativa nos mostra Abraão e sua fortíssima fé, com a declaração de que para o Senhor Deus de Israel era melhor a ‘obediência’ que o ‘sacrifício’. Ainda que a vida de Abraão se tenha prolongado por 60 anos depois deste acontecimento, os únicos incidentes que se acham pormenorizados são a morte de Sara, a compra da gruta de Macpela para sepultura (cap. 23), e o casamento de Isaque com Rebeca (cap. 24). A morte de Sara foi em Quiriate-Arba, isto é, em Hebrom, devendo por isso voltar Abraão, de Berseba, à sua antiga casa. É realmente significativo (At 7.5) o fato de ter sido a herança de Abraão na terra da promessa apenas um túmulo (*veja Gn 60.18). Na bela história do casamento de Isaque é deveras digno de nota o ter Abraão recusado a aliança do seu filho com as idólatras de Canaã. Finalmente menciona o livro de Gênesis o seu casamento com Quetura, e a sua morte na idade de 175 anos. o seu herdeiro Isaque, bem como o exilado Ismael, sepultaram-no ao lado de Sara na cova de Macpela. Abraão representa, no N.T., o verdadeiro ideal da religião, quer pela sua fé (Rm 4. 16 a 22), quer pelas suas obras (Tg 2.21 a 28). Jesus mesmo diz dele: ‘Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia’ (Jo 8.56). S. Tiago (2.23) chama-lhe ‘o amigo de Deus’ (cp.com is 41.8 – 2 Cr 20. 7), designação que entre os árabes substituiu o seu próprio nome (Kalil Allah, ou simplesmente Kalil, o Amigo).